Lord

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Capítulo 1: Apresentações

_ O que? Ele fugiu de novo?
_ É, mas dessa vez foi enquanto todos estavam dormindo. Encontrei uma corda feita com lençóis na janela.
Como perceberam essa não foi a primeira vez que Airam fugiu do orfanato. Fazia isso pelo menos uma vez por semana, e sempre nos ligavam do aeroporto, da rodoviária, ou mesmo da estação de trem dizendo que ele fora descoberto tentando embarcar. Para onde? Nem mesmo ele tinha idéia. Cada vez era para um lugar diferente.
Ele sempre dizia que fazia isso para encontrar o homem de cabelos brancos que matou seus pais. Mas ninguém acreditava, e, por um bom tempo, nem mesmo eu, pois todos sabiam que seus pais haviam morrido em um acidente de carro, e não assassinados.
Quando Airam fez dez anos contrataram um psiquiatra para acompanhá-lo. Acabou que o doutor pediu conta, porque o menino era tão inquieto que não parava para ser examinado.
Meu nome é Lisana, mas todos me chamam de Lis dês dos oito anos. O que eu tenho a ver com a história? Eu era a melhor amiga de Airam. Quase que a minha vida inteira foi com ele por perto, e eu sempre o ajudei e prometi contar a sua história. Se estiverem prontos, ou ansiosos como eu, vou começar do tempo que me lembro.







Capitulo 2: O orfanato.


No orfanato todas as crianças tinham medo de Airam, menos eu. No dia que ele chegou, com sete anos, e eu seis e meio, ele não disse uma palavra, tinha uma cara de assustado e vivia pelos cantos chorando. Eu sabia que isso era normal, pois ele acabara de perder os pais, o que não é fácil pra ninguém, ainda mais para uma criança.
Durante quase três meses, na hora do almoço ou jantar, ele pratica-mente não comia e sempre era o último a sair da mesa. Um dia, de propósito, comi bem devagar, mais do que já comia, só pra ficar sozinha com ele na mesa, pra fazer amizade, já que ele estava sempre sozinho.
_Por que você é sempre o último a sair da mesa?-tentei. Ele continuou em silêncio. – Você não gosta da comida da tia Hana? – Nada. – Acho que você vai ficar fraquinho e não vai conseguir brincar... – desta vez eu comecei a pensar que ele era surdo ou, talvez, mudo... ou talvez os dois!
_ Você não sabe falar, não? Eu fiquei na mesa à toa! – comecei a gritar. – Tia Hana, desculpas, mas eu enrolei na mesa por causa de uma menino surdo e mudo!
         Então eu ouvi risos baixinhos. Era ele.
_ Você é muito boba! – até que em fim uma frase.
_Boba, eu? Você que não fala com ninguém!
         Começamos a rir sem motivo algum, até a tia Hana, a cozinheira do orfanato, entrar na sala de jantar e perguntar quem estava gritando na mesa e que isso era muito feio.
         Dês desse dia, e durante quase três anos, Airam só falava comigo e a tia Hana. Com o tempo, sua vontade de fugir do orfanato foi se apagando, mas ele ainda insistia com sua versão sobre a morte de seus pais.




Capitulo 3: O recomeço


          Oito anos depois de conhecer Airam, ele iria sair do orfanato pra estudar e trabalhar fora.
_Airam! Você vai se atrasar! Anda logo menino!
_ Tia Hana, eu não sou mais um menino! Não me chama assim, tô grande pra isso!
_ Pra mim vai ser sempre um moleque.
_Não te perguntei nada, Lis.
_ para de bater papo e ando logo, se não o Seu Sakurai vai deixar você pra traz, menino!
_ Tia Hana, eu...
_ Ta, já sei! Você não é mais menino, mas anda logo! Tá doido nunca vi demorar tanto. Como vai trabalhar desse jeito, vive lerdando e...
_Também vô sentir sua falta tia Hana! E não se esquece o que eu falei pra vocês, eu vou voltar pra buscar vocês duas, ta?
_ Duvido! Você vai ganhar dinheiro e sumir, isso sim!
_ Eu fiz uma promessa e vou cumprir. – disse entrando no carro. – Eu vou voltar.
         Cumprir a promessa ele cumpriria, mas só metade dela. Dois meses depois que Airam saiu, tia Hana ficou muito doente. Passou semanas internada, mas de nada adiantou. Foi uma tristeza muito grande no orfanato. Tia Hana era amada por todas as crianças daquele lugar, tanto as mais novas quanto as mais velhas. Ela era carinhosa com todos que chegavam, os acolhia e sempre estava de bom humor. Sempre fazia as refeições com carinho e as sobremesas eram as coisas mais gostosas que alguém poderia comer. Quando eu entrei no orfanato já havia quase dez anos que ela estava trabalhando lá. Mas infelizmente, aos 62 anos ela nos deixou um grande vazio.
         Eu, como não tinha a intenção de deixar o orfanato tão cedo, acabei cuidando da cozinha no lugar da tia Hana provisoriamente.  Ela havia me ensinado tudo que eu sabia na cozinha. Foi um recomeço de vida tanto pra mim quanto pra Airam, que ainda não havia desistido de sua vingança, mas não sabia por onde começar.
         Airam ficou muito tempo sem dar noticias, estava em outro estado. Cheguei a pensar até que ele realmente não iria voltar. Engano meu. Dois anos depois ele voltou e ficou muito triste quando soube da tia Hana. Acho até que ele pensou que foi culpa dele, pois demorou de mais pra voltar, mas quem poderia prever algo assim?
         Mas por outro lado ele ficou feliz por mim:
_ É bom ver que você se importa com esse lugar e tem um emprego que gosta. – disse – É muito bom trabalhar com o que agente gosta pra variar...
_ To vendo que seu emprego com o seu Sakurai não foi lá essas coisas.
_ Aquilo não era emprego, era escravidão pra mim. Ficar o dia todo limpando e abastecendo barcos, carregando caixas, não, isso não é pra mim. Você sabe muito bem que eu não gosto de ser subestimado, eu poderia fazer algo melhor.
_ É, eu sei. – fiz uma pausa – Mas, talvez, se você ficasse lá, Sakurai poderia ter te promovido...
_ Só se fosse a limpador de peixe!

         Airam queria ficar mais umas semanas no orfanato, para poder esperar o meu aniversario de 16 anos. Teria uma festa e ele queria participar. Mas algo estranho aconteceu, para ser mais exata, alguém inesperado apareceu.




By: Duda